As cidades desempenham um papel central e fundamental no combate às mudanças climáticas globais. Além de serem grandes emissoras de gases de efeito estufa, é precisamente no contexto urbano que eventos climáticos extremos – como inundações devastadoras, estiagens prolongadas ou calor excessivo e insuportável – tendem a impactar um número significativamente maior de pessoas e comunidades. No entanto, embora os desafios da sustentabilidade urbana envolvam complexos aspectos de ciência, tecnologia e inovação, é na implementação política que se encontra, frequentemente, o maior obstáculo a ser superado. Essa foi a conclusão que especialistas em sustentabilidade urbana apresentaram durante um debate enriquecedor realizado no dia 5 de agosto, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), no âmbito do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação. O evento foi transmitido online pela Agência FAPESP. "Vivemos um momento extremamente desafiador e é crucial ter a consciência de que precisamos de uma transição estruturada de modelo de desenvolvimento. O atual é extremamente predador ao meio ambiente e desconsidera as profundas desigualdades sociais existentes. Nós temos ferramentas robustas o suficiente para enfrentar essas questões de forma eficaz. O conhecimento e a ciência têm a capacidade necessária para enfrentar esse panorama desafiador, mas não conseguimos avançar devido a complicações políticas. As soluções não são teoricamente escassas, mas seguimos lidando com os mesmos problemas por questões políticas que precisam ser revistas e atualizadas", disse Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Cidades Sustentáveis.
Segundo AbrahãAbordagem sistêmica
Professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Karin Regina de Castro Marins defendeu que o planejamento na gestão urbana necessita de instrumentos e processos adequados a diferentes escalas, não enfocando apenas a cidade como um todo, mas bairros, ruas e lotes.
Entre os exemplos apresentados por Marins está a variedade térmica provocada pelo adensamento no bairro Belenzinho, na zona leste da capital paulista. "O adensamento tem acontecido em vários bairros com estação de metrô. As áreas são ocupadas e ocorre a verticalização perto de edifícios baixos, formando diferenças de temperatura superficial de até 13°C. Em vários casos, uma quadra fica na sombra o tempo todo, enquanto a outra toma sol. O resultado são cidades com gradientes térmicos associados à ocupação e não só ao clima, o que impacta a percepção de clima do cidadão", explicou.
Para Marins, além de levar em conta escalas menores como bairros e lotes, o planejamento urbano precisa de uma abordagem sistêmica.
"Mais de 80% das emissões da cidade de São Paulo estão associadas ao transporte. Por isso, estimular o transporte público é tão importante, mas não há uma integração entre políticas de segurança e mobilidade urbana, por exemplo. Precisamos lembrar que as pessoas caminham até o transporte público e, se não há segurança para isso, não vamos conseguir atingir a meta da Agenda 2030", disse.
"Percebemos, portanto, que as políticas públicas acabam tendo um detalhamento pequeno, ou existe uma dificuldade de implementação. São Paulo é uma cidade extremamente rica, com estrutura, mas existe uma dificuldade de implementação. Há, inclusive, incompatibilidade para se trabalhar entre diferentes setores em ações interdisciplinares – como, por exemplo, segurança e mobilidade – dentro da gestão pública", avaliou.
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